Decifra-me,
antes, acende a tocha da paixão,
marcando as asas em mim.
Olha as cigarras, existe o canto,
música suave e estrelar harmonia…
Coração que se arrebenta,
o canto não se abisma, modula,
nele a freqüência, a sintonia…
Decifra-me,
Oceano, estou mar!
Uma vela içada e um mar de levar
marulhas, ondeias… Brilhas, me vences.
Arribo a proa e ponho para navegar,
no entanto abro-te o coração ao tempo
e dizes não te pertenço, não te pertenço…
Decifra-me,
meu coração é néscio,
mas tem os dentes de aço
e o sentimento de prata.
Reluzente em luas bravas,
zumbe pelas madrugadas…
Algo nele viaja em fuga, é seta,
que mira estrelas em noites andarilhas,
é foice ceifando a réstia de luzes perdidas…
Mas, se quiseres saber, ele é colibri ao amanhecer!
Decifra-me,
sou jardim florescente
que olhos retorcidos
olham torto pelo brilho.
Parcas sementes, luas tantas
que florescem dos lírios!
Devora-me,
a alma arde volátil em chamas,
está tudo no olhar, a paisagem toda
brotando no tempo, estancando a hora…
O mar, a aura, os arrecifes, a flor, a harmonia.
Ah! Se teus olhos regassem os céus
acenderiam a noite… Decifrariam o dia!