Para descobrir que depois de tudo,
de tanto tempo passado,
resiste este sentimento
cravado no lado esquerdo do peito
onde teimoso, ainda bate um coração.
– novenas rezadas, promessas feitas
cumpridas ou não
e nada deste amor se acabar.
Para perceber que no final do túnel
a luz que brilha,
é teu olhar vindo em direção contrária
feito trem desgovernado,
desejo na ponta da agulha,
que espeta a alma esmigalhada.
Feito a razão soberana
chamando à Terra
o que sempre foi do Mar.
Ou como o teu sorriso,
que já nem lembro a cor,
ou a firmeza dos teus músculos,
que já nem sei o cheiro,
feito teus pêlos
que nem sei mais a forma,
ou teu beijo molhado, lavado de prontidão
se derramando sobre a minha pele
ou a exatidão do teu corpo sincronizado no meu,
ou a tua voz, absurdamente rouca
no meu ouvido
amorosa, obscena e terna voz,
que tortura pelo fio do telefone
rasgando a cortina do tempo,
mostrando o corpo puído e
cansado de procuras em vão.
Feito a imensidão deste amor
que subverte a minha alma
e que me faz implorar, apesar de tudo,
a tua volta.