Saga do Rio I

Um
dia
sentirei
um
pouco

De sua branda
carícia

Ficarei
gravemente
rouco

De tanto gritar à
milícia.

Aspiro em saber como é

Ter seu dedicado amor

Se fico deitado ou em pé

Ou se pulo com fulgor.

Seus olhos cor de mel

Revelam a bela fineza

Que há no delicado véu

Cúmplice de sua beleza.

I

As folhas do azevim

Caem verdes no solo

De um florido jardim

Resvalando em seu colo.

Um estrondoso baque

Cai em minha alma

Desprovida de calma

Que põe-se ao saque.

Ouve-se um tropel

Lembro de seu mel

E percebo sua pele

Suave, linda e ao tele.

Tais belas lembranças

Salvaram-me do perigo

Dando-me esperanças

Plantando o bom trigo.

Vaguei entre salas

Oscilando de fogo e gelo

Para gostosas doces balas

Em papéis de verde selo.

Tive várias aventuras

Conheci diversas culturas

Provei-lhe meu amor

E ouviu meu langor.

Sei que sua pele macia

Sua serena e doce magia

Minha nunca seria.

O doce de seus lábios

Belezas dos vários.

Prenderam-me os ordinários!

A prisão era uma terno bambu

Esculpida em mogno qual baú

A prisão era seu sorriso macio

O caudaloso e extenso rio

A prisão era seu seio

Qual a mata e seu veio.

Mas adorava as grossas grades

Que me prendiam antigamente

Trazendo-me água diariamente

Em tinas azuis e pretos baldes.

II

Mas escapando por uma brecha

Levando no ombro uma flecha

Vi com lucidez um extenso rio

Onde predominava o vazio.

Não havia peixes nem água

Só terra, pedras e mágoa.

O rio pediu-me conselhos

Dei-lhe algumas dicas

Sobra variadas bicas

Onde acharia bedelhos.

Que faria suas margens

Transbordar novamente

Lá foi ele todo contente

Ao lugar de belas vargens.

Achou o tal querido moleque

E este abriu-lhe um longo leque.

Escolheu água pura

Sem a triste tortura

De peixes caídos

E animais feridos.

Quando voltou de sua viagem

Agradeceu-me por tal coragem

E deu-me olhos compenetrados

E sentidos rápidos e aguçados.

Capazes de ver-te todo os dias

Sem chorar a perdida beleza

Dizer-te belas simpatias

Com assustadora destreza.

III

Hoje agradeço ao veio

Poder ver tal preciosidade

Olhos mel e sorriso cheio

De amor e intensidade.

Quando volto ao riacho

Vejo em sua água límpida

O bonito castanho cacho.

Os olhos de cor castanho

O sorriso meigo e lindo

E a pele branca qual estanho.

Nas margens marrons

Olho a incrível fertilidade

De todos seus dons.

Tão frágil que adere ao fogo

Qual dado em um mau jogo.

Linda, meiga, bela, tudo

Impressiona todas pessoas:

Japonês, árabe e curdo.

No rio vivo

Não vejo tristeza

Vejo apenas certeza

De um riacho nativo.

Quando por lá passam bardos

Entoam-lhe músicas orquestrais

E jogam-lhe variados lardos

Perdendo-se nos matagais.

Agora a flecha em meu corpo

Atirada de um cumprido arco

É arrancada e sobra um naco.

Regenera-se a ferida

É formada uma cicatriz

Como uma doída mordida

Vejo em sua pele de lis.

Hoje sou alguém liberto

Sem a obsessão pelo amor

Sem a certeza do certo

Mas nos olhos, vigor.