A Quarta Dimensão

Manhã de segunda feira.
Dia de trabalho, gente apressada,
hora concreta de não sentir e nem sonhar,
neblina clara, frio intenso.
Uma brisa, quase nada,
soprava o ar nevoento contra os arbustos,
deixando, em folhas e pétalas, mil ínfimas gotinhas
que continham, cada uma,
a imagem completa do mundo em volta
e suas luzes.
Era um campo, caminhos de terra clara
entre tufos de capim ou grama,
cercas de madeira inseparando áreas:
velhas cercas decaídas…
A névoa densa
trazia perto o horizonte e filtrava
a luz do sol que, por trás do nevoeiro,
já vencera a montanha.
Num recanto, um barraco tosco, um carrinho de mão,
uma pá e uma enxada
diziam que, em horas outras,
haveria trabalho, atividade e dia a dia.
Encontrei ali minha amada, linda, emoldurada de ramos,
por entre sombras e raios de luz matinal,
tranquila, a me esperar?
Era serena como o lugar, que completava.
Quase, mas não sorria, e luzia felicidade…
Tomei-lhe a mão: caminhamos em silêncio,
ouvindo o som de cada passo, cada suspiro,
cada folha soprada pela brisa,
e o canto das aves que matinavam.
Apertei-a nos braços, adorei seus olhos fundos
como poços de águas claras em que mergulharia
sem hesitar.
Perguntei sem precisar: – quem é você?
– Sua vida… (era suave, sua voz)
Abriu-me então o olhar denso.
Era muito mais que poços: portal magnífico, passagem
a outro universo imenso, intenso, pleno de estrelas,
indescritivelmente brilhante. E calmo…
Lancei-me naquele espaço sem fim.
Sua voz mansa ecoava
à minha volta, em toda parte:
-… e sua morte…