Retrato da Arte

Hoje pintei um quadro
Não! O quadro me pintou
Num único ato de sensatez,
mostrou tudo o que sou
Acordei com um súbito desejo
de esparramar todo meu pranto
com cores diversas por sobre uma tela
Não quero Monaliza, nem nada doce ou meigo
Não quero ser Sarro, Botticelli ou Derain
Primeiro usarei grafite puro
Nanquim? Talvez aquarela
Se for aquarela que seja em pastilha, o efeito é melhor
Por último o carvão, darei um realce na escuridão
Nada! Quero expressividade…detalharei o que fiz ontem
Quero ver as lágrimas surgirem em seus olhos, vadia!
É isso, usarei tinta acrílica, é mais vivo.
O vermelho representará seu sangue e o azul a cor dos teus olhos
Aaaaahhhhh! Quebrei a tela!
Coisa ridícula, vagabunda!
Quebrarei a casa da mesma forma que quebrei a sua cara
Os espelhos! São falsos, traiçoeiros! Quebrarei-os também!
Está ficando bom o desenho do seu corpo…
da mesma forma que o vi pelo reflexo do espelho
Sua vaca! Os movimentos, aqui não posso descrever, nem os quero fazer
O nu do seu corpo é sinal de morte
Quem dera pudesse ser arte!
Se eu fizesse tudo que sinto com barro
esmagaria seu crânio com as mãos
Terminei, sua puta!
Você ­ seu corpo, o outro corpo ­ meu amigo.
Estão ótimos borrados de sangue
Os pincéis jogarei no mar
Querida, adormeça em paz!