O papel estremeceu
sem que vento soprasse
e letras voaram dele e cresceram.
Tomaram formas grotescas,
dantescas, animalescas.
E me amarraram,
arrancaram-me os dedos
tiraram-me a roupa
e me torturaram.
Depois, furaram meus olhos
puseram larvas em meus ouvidos,
para que alcançassem o cérebro.
Uma palavra me foi mais áspera!
Uma palavra foi a mais sádica
e devorou a dentadas, meu fígado.
A razão eu desconfio;
tal pai, tal filho!
Muitas vezes matei
o imatável
e roubei o irroubável
ignorando o que hoje me surra.
O criador comido vivo, estraçalhado
morto e traído
pela criatura!
Que se consciência servisse
minhas poesias seriam mudas…
Calar talvez fosse o que se devesse
mas todo calar enlouqueceu
para que meu útero a palavra sorvesse.
E assim,
por que escrevi e escrevi e escrevi…
a palavra me esbofeteou até que
fui tragada pela inconsequência
desta palavra amor..