Amor Etéreo…
Vieste assim numa noite turva e chuvosa
Acalentar meu espírito irrequieto, carente,
Arrebataste meu coração com uma rosa,
Pousaste tuas asas sobre mim, de repente…
Despertaste meu mais intimo desejo,
E quando, trêmula, estendi minha mão
Ao alcance dos teus lábios, com pejo,
Afastaste, suave, de mim esta pretensão…
Dos astros e dos planetas falaste com ardor,
Dos planos divinos desvendaste o mistério,
Mas eu queria beijar teus lábios, meu amor,
E queimar tua alma nupcial com adultério…
Do amor universal pregaste, meu anjo alado,
Eu te amo !!! Rasguei teu “não” com meu grito…
Sorriste, e me disseste com muito cuidado :
Guardei teu sentimento no meu amor infinito…
No éter azul levantaste o vôo, e chorei no poente
Fiz uma promessa secreta nesse altar do além
A de amar-te sempre, anjo-amante e confidente,
Meu corpo lascivo é teu, minha alma também…
Da dor me falaste…
Da dor me falaste
Com tuas fêmeas intenções,
E dos desvelos que a Natureza
Proporciona aos galhos trêmulos
Do nosso pejo, nosso desejo…
Cascavilhei então mares e rios frios,
Perlustrei vales e montes vadios,
Até a ansa que abriga o grito da vida,
A chaga cruenta, sofrida nos tempos
Do evasivo sonho de amor :
Mas, meu amor, nada encontrei…
Esgueirei-me de propósitos fúteis
E de todos encontros falazes,
Escutei a voz mouca do meu coração
Erguendo-se feito lamento musicado,
Crescendo e vibrando por amor…
Senti tua dor – distante – próxima
No meu peito, grinaldas multicores,
Olores de tua tez e seiva de astros…
Rastros dos meus beijos nos lábios teus,
Véus, sobre os olhos teus, caíram de vez
Diante tamanha pirotecnia…
Esvaiu-se o pejo, permaneceu o desejo.