Inspiração divina
pouco antes da Grande Obra
cismara Deus com a seguinte fórmula:
EU = EU + OUTRO
HISTÓRIA
Saga do eu
exHistimos
INTERSUBJETIVIDADE
eu sozinho é zero
eu e o outro é oito
no outro o eu é outro
o outro me vê como outro
e se vê como eu
eis o oculto
doje e dontem
sonho meu
corpo a corpo
globo a globo
olhO a Olho
eis o todo
doutro e meu
IMPERATIVOS CATEGÓRICOS
pense o pensamento
sinta o sentimento
escolha a skôlya
COM CIÊNCIA
com
si
em
si
NATALMA
ÚterO de mim
Parto
A SAFRA DE SEMPRE
a selva
o césar
a serva
a ceifa
a cerca
a seca
o centro
a seita
o sestro
a sexta
o semba
a cela
a sela
o cento
a senda
a ceia
o senso
a serpe
KONTRATEMPO
o terreno
o território
o terremoto
o ter
o tento
o termo
o tentador
a tendência
o tentáculo
o terno
o tenro
o terror
o tenso
a terapia
o temor
o templo
o terço
o temporário
o tempero
a têmpera
o temporal
o tema
o terceto
o término
INCOMPLETEZA (Aborto Social)
à Naiman
Quinze anos incompletos
infância incomplet
comida incomple
escola incompl
– Pão?
pano incomp
teto incom
afeto inco
– Pai?
pode parir completamente
mais de um inc
de pais in
– Paz?
ATIRE A PRIMEIRA PEDRA
QUEM NÃO FOR ALIENADO…
quando gritei
chamaram-me de recém-nascido
eu acreditei
quando cantei
chamaram-me de criança
eu acreditei
quando calei
chamaram-me de adolescente
acreditei
quando ouvi (o bErro vIsUaL)
chamaram-me de con$umidor
eu acreditei
kuando enfim
me-deixei-viver-sem-amarras
eu mesmo as kriei
kuando kontei
me-xamaram d poeta
y eu não-akreditei!
GEOMETRIA
( aos poetas Wally Salomão e Cazuza)
no caminho do
poeta
há sempre uma
pedra
não é
uma reta
o
caminho do poeta
nem sempre há uma seta
e quando há,
nem sempre se enxerga as letras
no caminho do poeta
a seta cai
com a
letra morta
a reta entorta
e a pedra vem
o caminho do poeta
não é uma reta
o caminho do poeta
não é
o caminho do poeta
não
o caminho
o caminho sem metas
caminha
entre
pedras e letras mortas
mas para ele pouco importa:
seu
caminho tem muitas portas
seu
caminho é trem
( caminha
pensa caminha
a caminha do poeta
é um caminho
onde o
poeta acorda
e finge não ver
que está dormindo )
VELHO VIZINHO
“Há em mim um velho que não sou eu.”
(Otto Lara Resende, cronista mineiro)
sempre que saio
sob o mesmo sol de sempre
Seo Cosme está ali
só
bem cedo
sereno
seguro
sonoro
sagrado
ventre ao vento
sentado em seu assento
fuma um free
fuma um
fuma
finge ler o jornal
sofre de tosse
escarra vermes no asfalto
segura o peito
solta peido na sombra
tira sarro do céu e da sorte
esquece o fuso
fia o bigode
sente sede de sexo
espirra verão seco
espreita um seio
uma saia
um salto
coça o saco
espreguiça versos verdes
assalta o sono
sem segredo
cai em si
segue a sina
espreme uma espinha sobre a sobrancelha
sei que é sonho se ele não me acena
Seo Cosme é meu senso de realidade
às vezes vejo que meus OlhOs não são meus
às vezes penso que São Cosme é Deus