Quatro Poemas

O Céu do Planeta (II)
dedicado a Filó
Ontem o céu escondeu seus mistérios por detrás
dos flocos de nuvens encantadas, apaziguadas pelo azul.
Que mistérios? Aqueles dos outros céus e outra luz, a dos outros sóis, arquidourada e de outras estrelas, darkblue,
e também a forma avolumada de brancos flocos de algodão,
alvos de tão brancos, opacos e translúcidos, intermitentes
e a densidade do azul, a perder de vista, na contramão do
espaço,
e todos os corpos celestes em seu etéreo regaço, distantes,
não somente os visíveis, mas os eternamente ausentes,
tão distantes quantos são os milhares de anos-luz
que se descortinam em minha mente.
Ontem o céu ocultou em seu seio quasares e luas,
e buracos negros nas ruas inconcebíveis de Plutão,
e além do último planeta, toda a imensurável leveza
da mais estranha , branca e encraterada, de enigmática lua,
(como um queijo suíço de meus sonhos primitivos)
azul claro e cor de prata, e todo o mistério de sua beleza nua.

E também a densidade da noite que se projeta para além
da negritude das noites espaciais, vazios intermitentes,
guardados eternamente nos vácuos celestiais do nada,
onde não alcança o pensamento, nem o auscultar da mente.
Ontem, como em todas as manhãs e nos dias que virão,
o céu ocultou de meus olhos outras chuvas e trovões
e as constelações imaginárias, capricórnios e leões,
qual olhos cegos, com mãos a vendá-los, negra dor,
dos que não podem ver para além da abóbada escura,
as moradas celestiais que Deus nos desvelou.

CARINE
Meu lamento é acalentado pelos teus olhos
e pelo mais puro magnetismo de teu sorriso,
lamento expresso nos versos de meus poemas,
ou em um soneto qualquer, olhos baixos a cintilarem
como as notas musicais de um saxofone, ir-me mas não ir
com notas invisíveis que flutuam no espaço.
abster-me de ti? nunca mais, amar-te é ter-te
integralmente comigo como posse indefinível,
outra parte de mim, porque somos assim,
seres incompletos, fragmentos de outros seres,
uma parte de mim que carece por ti e teu sorriso são os
meus,
e teus olhos nos meus, são idênticos aos teus,
fitando-me ou se esvaindo
com emudecida palavra soprada ao ar,
com aspirações de nada e suporte divino.

EME CE DOIS
Energia igual a eme cê ao quadrado
e meu coração transtornado e magnetizado,
como o raio de luz que risca o céu
e se materializa no próximo planeta,
tão branco quanto a calda de um cometa,
e minúsculo quanto o rabinho de um gameta.
É preciso dizer ao físico judeu toda a verdade
acerca do amor que ele não deu à sua mulher
por causa de seu amor à teoria quântica
ou por uma obsessão
a um postulado da física, qualquer…

MERA LUZ
Mera descrição da realidade.
A luz que se encontra no chão
refletida nos meandros de cada objeto
ou subindo pela encosta das montanhas
ensombreadas,
encontro de velhos e novos amigos,
luz refletida na luz,
encurvada ante à magnitude dos Andes,
cordilheira encantada,
luz nos teus olhos.
Quantos anjos protegem minha vida
ou quantos demônios a querem destruir?
Os que por mim choram lágrimas,
ou me apunhalam sem rir?
Descrição de mera fatalidade.