Tecer versos é, por força,
Fazer sulcos em penedos,
Singrar as pedras todas
Do mar de si ao avesso,
Derramar suores em gotas
No fero vigor do remo.
É ferir à quilha da fragata
As artérias espumosas
Das altas internas vagas,
Navegar por entre as rochas,
Extrair exangues lascas –
Vergões por dentro e por fora.
Talhar a cerrados pulsos
As pedras finas, mas duras,
Lapidar relevos pulcros
Em fendas pouco profundas
É um árduo trabalho infruto
Que só lega palmas sujas.
Mas é preciso fazê-lo!
Alguém deve abrir as ostras
Abismadas em seu peito
Para juntá-las a outras
Iguais na casca e no meio
Mesmo que elas estejam ocas.
Por fim: crer que vale a pena
Mineralizar as lavras
Como fulcros ao poema
E inertes todas deixá-las
Inativas pelas fendas –
Palavras amortalhadas.
Para que tu, só tu possas
Sugar o cerne dos versos
Acumulados em poças
Pelos teus olhares tétricos
Que desmineram as horas
E se desmentem eternos.