Poema de Papel

I – Livro
Abres um livro
pões-te a lê-lo.
Folheias,
marcas,
sublinhas, se calhar.
Viras-lhe a capa
desdobras
as bandas, se as tiver,
e colocas o livro
no lugar.

II – Folhas
Passas os dedos
no papel claro,
nas linhas finas,
nas notas por apagar.
Vês as frases
com ou sem rumo
e és quem decide:
recuas ou deixas-te levar.

III – Texto
Enfim prosseguiste
na viagem ao livro
as palavras arrastam-te.
Uma corrente de letras
quer fazer-te render
de uma às outras páginas.
Se o conto te envolve
já estás, mas não sabes,
dentro dessa história.
Esqueces-te do redor,
reflectes no que lês,
constróis mil imagens.
No mergulho ao texto,
que dás sem sentir,
enrola-se a trama.
E então não és tu,
já sem saberes de ti,
mais do que as personagens.