O Monte, O Fim

Gostava de saber o porque de tantos papéis.
Junto-os por todos os cantos, bolsos, carteiras, dentro de livros e,
como se não fosse o bastante,
tenho alguns fichários para guardar anotações que,
diga-se de passagem e de chegada,
nunca leio.
De nada servem,
serviço só prestaram quando pensei que poderia precisar
ou quando tinha em mente algum projeto que nunca iria realizar.
Quando eu morrer,
por certo haverá muitos desses papéis,
de modo especial espalhados pela casa.
Se alguém tiver paciência,
que os leia,
caso contrário apenas jogue-os fora,
queime-os ou faça massa de papel
e construa uma pequena cordilheira,
como aquelas das exposições de ciências dos pequenos.
Esse é o meu desejo: alguns montinhos de massa de papel,
aqui e acolá uma arvorezinha,
um barquinho num lago,
um menino a pescar,
tudo de mentirinha,
como a felicidade desta vida.