Quando eu partir, talvez a um outro mundo,
seja ele longe ou bem aqui do lado,
desejarei um céu azul profundo
me acompanhando sempre, lado a lado.
Aonde vou? não sei; não será ainda
para outro céu além do oceano imenso.
Hei de partir, mas não nessa Partida
alem de tudo, além do pensamento.
Ainda assim, pretendo não voltar
e chegarei, talvez, perto de mim.
Onde estarei? não sei… onde estará
minha manhã, meu sol… meu dia, enfim?
Sim, deixarei aqui saudades tantas
– essa saudade que só em mim havia —
Não chorarei… pra quê? não adianta
sentir saudade das saudades minhas…
E levarei comigo uns gestos poucos:
alguns sorrisos, um jeito de andar
e o meu olhar… talvez, o olhar de um louco
sempre profundo, sempre a se encantar.
Da minha casa de vazios quartos,
da minha infância de paredes nuas…
das cores gastas dos porta-retratos
e das viagens por vazias ruas
eu levarei somente a estranha essência
que me acompanha sempre, inda distante;
e longe assim, talvez me fosse ausência
não renascesse em mim a todo o instante.
E tudo fora muito, embora pouco
possa notar, assim, tão logo vá…
Partir… por que partir? um grito rouco
me diz: “partis porque queres chegar.”
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Adeus vento tão frio, adeus aurora…
A flor de um outro rio vem me acenar
adeuses e assobios ao ir embora
pra em outros corações desabrochar…
A noite agora desce… e está tão linda;
mas eis que, ao partir, ouço o teu pranto.
Amor… por que tu choras? És minha vida!
E estou sempre a partir ao teu encontro…