Em memória aos que se foram,
em especial á Toinho Magriça.
Gatos nas panelas,
gatos escalpelados
tamborins exaltados…
Na maré,
Os marezeiros colocam o bloco na rua,
o trio elétrico Dodô e Osmar tocando
no serviço de auto-falante São Lázaro.
Lá vai o bloco dos miseráveis desfilando
pela passarela da ponte Santo Antônio!
Explode o som do serviço de alto-falantes
eu sou o carnaval em cada esquina…
Caretas feitas de saco de alinhagem,
pano de chita enfeitando as meninas.
Nas pontes a batalha de confetes,
serpenteia tristeza e serpentinas…
Neste bloco não tem cordas,
não tem as cores da cidade
é um amontoado de sofrimentos
fazendo festa sem instrumentos…
Farrapos de mortalhas como fantasias,
no enredo desfilam: fome,asma e cirrose
meningite, pneumonia e tuberculose
No porta estandarte,
dona morte requebra cheia de alegria
sob a pele de barrigas vazias…
Enquanto no outro lado da cidade
dona esperança pula cheia de alegorias.
No porta estandarte
desfilam: saúde, escolas e educação
teatro, lazer e boa alimentação.
Do Campo Grande á praça Castro Alves
confetes, pierrôs e colombianas
lança-perfume, cervejas e serpentinas.
Dentro das cordas,
o trio detona o som: atrás do trio elétrico
só não vai quem já morreu…
Requebram quadris bonitos e malhados.
A nata da sociedade em plena felicidade
descem a avenida com os desejos aflorados…
Na maré, segue o carnaval…
Crianças caras pálidas
botam o bloco nas pontes.
Pintam os rostos de índios,
e de cuias nas mãos:
os vinténs serão bem vindos!
O sol chega nas pontes de arlequim
espia da esquina e bate uma no botequim.
A lua aparece vestida de colombina,
ela requebra e ele agarra-se a sua cintura
se beijam e vão desfilar no mar de amaralina…